Toda revolução começa por alguma parte e uma que atualmente transforma o cotidiano de muitas pessoas se iniciou com um tomate. Este avanço, que tem inovado ideias e a forma de como se decide impactar o ambiente, acontece graças aos organismos geneticamente modificados (OGM), ou transgênicos.
Inegavelmente, foi a engenharia genética que trouxe o dilema do que deveríamos ou não estar consumindo. Trazendo consigo uma revolução na Indústria Alimentícia e uma geração de consumidores conscientes.
Primeiro, o que seriam os transgênicos?
Os transgênicos são organismos cuja estrutura genética tem sido modificada com a inserção de genes de outro organismo, com o objetivo de atribuir certas propriedades específicas.
Já a respeito do tomate previamente mencionado, é de estranhar que a revolução da manipulação genética na área de alimentos começou com esta fruta. Pois, desde a descoberta do DNA em 1953, os cientistas começaram a alterar os genes de plantas mediante processos como radiação e técnicas de recombinação de DNA. Contudo, foi em 1994 que o primeiro transgênico chegou às mesas dos consumidores. O tomate “Flavr Savr” prometia maior durabilidade na Califórnia, Estados Unidos. A partir daí outros produtos seguiram, como milho, arroz, batatas e soja.
Entretanto, as técnicas usadas para realizar os experimentos demandavam muito tempo e tinham um custo elevado. Foi em Agosto de 2012 que as pesquisadoras Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna publicaram na renomada revista Science uma técnica que viria a simplificar a manipulação genética. Esta técnica, o CRISPR-CAS9 , sigla para Conjunto de Repetições Palindrômicas Regularmente Espaçadas, tenta mimetizar o mecanismo de defesa de algumas bactérias para se proteger de vírus. Este mecanismo, insere fragmentos do DNA de vírus no genoma da bactéria. Já nas próximas infecções , o RNA gerado pela sequência do vírus associa-se com a enzima CAS9 e clivam o DNA do vírus e, dessa forma, fica inativo. Esta descoberta fez com que as cientistas fossem laureadas com o Prêmio Nobel de Química 2020.
Empregando técnicas de engenharia genética, a ciência tem conseguido ir além de um tomate. Norman E. Borlaug conseguiu introduzir uma variedade de trigo que gerava um maior rendimento na Índia e no Paquistão e foi atribuído com ter salvado 1 bilhão de pessoas de passar fome. Fatias de maçãs que não escurecem quando expostas ao ar, hambúrgueres sem carne, cogumelos com maior tempo de prateleira, entre outros produtos que já estão chegando aos mercados e estão redefinindo a indústria.
Uma visita rápida ao mercado e consegue-se perceber uma tendência crescente de alimentos sem glúten, sem colesterol, sem lactose, veganos, orgânicos e sem ingredientes transgênicos. Os consumidores, que estão em seu direito, estão exigindo um sistema alimentar menos nocivo ao ambiente, rejeitando alimentos processados e apoiando produtores locais
Então, por que se tem tanta rejeição dos OGM?
Ambientalistas, consumidores e ONGs, Greenpeace entre elas, tem adotado um posicionamento rígido quando se refere a OGMS. Sob a ideia que os alimentos orgânicos são mais seguros para a saúde e o ambiente. Outro ponto que este lado mantém é que o mercado de OGMs está monopolizado por corporações gigantes e estas, impulsionam o uso de toneladas de pesticidas.
Será que pode-se declarar isso?
Uma extensa revisão em publicações acadêmicas, nos mostra que não se tem encontrado nenhum risco associado aos OGMs e nenhuma evidência que afirme que os alimentos orgânicos são mais nutritivos ou seguros. Em relação à alegação sobre corporações, muitas investigações relacionadas aos OGM são financiadas por empresas de agroquímicos. Desde 1970, foi observado um aumento no uso de agrotóxicos, usando mais de 2,5 bilhões de kg por ano.
No entanto, produtores de alimentos orgânicos utilizam o sulfato de cobre como fungicida e esta substância é considerada como tóxica. Além disso, para a produção seriam necessárias uma maior quantidade de área e água, pois o rendimento de produção é menor. Como também encontra-se grandes corporações trás o mercado orgânico, entre elas, a Amazon.
O mercado poderia deixar de forçar a escolhermos religiosamente uma destas opções. E começar a incentivar novas pesquisas que não sejam motivadas por políticas. No futuro, alimentos orgânicos poderiam ter um melhor rendimento e OGMs poderiam não precisar de agrotóxicos.
O crescimento da população humana está acompanhado de um crescimento da produção de alimentos e uma coisa está claro, o sistema alimentar não está preparado para essa semana. A indústria tem que ser, novamente, reinventada.